segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Embaixadas de Santos Reis - Tradição em Ribeirão Vermelho



A folia de reis é uma festa católica que celebra os Três Reis Magos. Fixado o nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro, adotou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o dia 6 de janeiro, que, em alguns países de origem latina, especialmente aqueles cuja cultura tem origem espanhola, passou a ser a mais importante data comemorativa católica, mais importante, inclusive, que o próprio Natal.

Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos "Santos Reis" e ao nascimento de Cristo; essas manifestações festivas estendiam-se até a data consagrada aos Reis Magos, 6 de janeiro. Trata-se de uma tradição originária de Espanha que ganhou força especialmente no século XIX e que mantém-se viva em muitas regiões do país, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, dentre outros.

 No Sul de Minas, um grupo de Folia de Reis é composto da Bandeira ou Estandarte que é decorado com figuras alusivas ao menino Jesus, ou mesmo com palavras relativas à data. Outro componente importante é o Bastião (Marungo) que se veste de modo característico, mascarado e sempre porta uma espada, este tem a função de folião propriamente dito, levando alegria por onde a folia passa, e como que abrindo caminho para a passagem da Folia que de certa forma representa os próprios Reis Magos. O Bastião tem também a função de citar textos bíblicos e recitar poesias alusivas. Na sequência o grupo de vozes se organiza em Mestre, Ajudante, Contrato, Tipe, Retipe, Contratipe, Tala, ou Finório. Na verdade esses nomes se referem a uma organização das vozes em tons e contratons, durante a cantoria, o que leva a formação de um coro muito agradável aos ouvidos. O Mestre, por sua vez, tem o papel especial de iniciar o canto, que é feito em versos e de improviso, agradecendo os donativos da casa visitada. Os outros componentes então repetem os versos, cada qual em sua voz, na cadência definida pelo Mestre, acompanhados pelos instrumentos que tocam.

Em Ribeirão Vermelho as Embaixadas de Santos Reis foram criadas desde praticamente a criação de nosso município como por exemplo a  Folia de Reis "Embaixada João Batista Tobias". Há também várias outras que nos prestigiam como podemos ver nas fotos cedidas por Edson Patto e também em vídeo já postado neste blog.











quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Parabéns Ribeirão!

No último dia 26 de Novembro foi comemorado o 66º Aniversário de Emancipação Politico-Administrativa de Ribeirão Vermelho. Durante a manhã houve desfile cívico das escolas do município, saindo da Escola Estadual Antônio Novaes, pecorrendo a praça Prefeito Gelson Loureiro com apresentação dos alunos do CMEI e até a participação do Motoclube Lokomotiva da cidade de Lavras.


 A festividade contou também com a participação da Banda de Música Lira Joaquim Braga e autoridades municipais com hasteamento das bandeiras e execução dos Hinos Nacional e Municipal de autoria da Sra. Gláucia.


No fim de semana houve a tradicional festa na Avenida com apresentação de bandas regionais.
Que a nossa cidade continue melhorando cada vez mais.



terça-feira, 4 de novembro de 2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os ribeirenses e a grande guerra!


Ribeirão Vermelho também não passou ilesa pela Segunda Grande Guerra e muito de seus filhos foram convocados a lutar pelo nosso país. Não consigo contar a história de todos infelizmente, porém, abaixo temos duas histórias acontecidas durante a guerra em solo italiano vividas e contadas por David Ferreira Dâmaso, um dos Ribeirenses que participou desta história junto aos demais pracinhas Brasileiros.
 


 Foto tirada após a conquista de Montese – Soldados do 11ºRI


Cabo David Ferreira Dâmaso
  
Ex-combatente da 2ª Guerra Mundial
11º RI – Regimento de Infantaria – Regimento Tiradentes
São João Del-Rei – MG

Natural de Ribeirão Vermelho – MG
UNIDADE:
II/11º Regimento de Infantaria

POSTO OU GRADUAÇÃO:

Cabo. Ao regressar ao Brasil foi licenciado e reintegrou-se a suas atividades civis
CONDECORAÇÕES:
Medalha de Campanha

Entrevistado por um membro da Diretoria da Anvfeb/JF.

UM ACONTECIMENTO QUE FICOU GRAVADO EM SUA MEMÓRIA.
“Tudo e todos os acontecimentos ocorridos durante o desenrolar da Campanha da FEB na Itália, foi importante para mim. Assim sendo, vou começar, contando como e porque fui incluído na Força que deveria representar o Brasil na 2ª Guerra Mundial.

Em 1941, apresentei-me como voluntário no 11º Regimento de Infantaria em São João Del-Rei. Tinha 16 anos. Completei 17, no dia 7 de maio de 1941, já como soldado.
Para usar de franqueza, devo dizer que a minha intenção era servir um ano para cumprir minha obrigação militar. Mas todos sabem que a partir de 1941, até o final da guerra não houve licenciamentos no Exército, razão porque, quando o meu Regimento, o 11º RI, foi escolhido para integrar a FEB, tornei-me um expedicionário.
Embora pertencesse ao 11º Regimento de Infantaria, segui para a Europa com o 6º Regimento de Infantaria, no dia 2 de julho de 1944 e, na Itália, quando a tropa que constituiu o primeiro escalão entrou em ação de combate, o pessoal pertencente ao 11º RI, que havia seguido com o 6º RI, passou a constituir tropa de reserva para o recompletamento dos quadros.
Com a chegada dos 2º e 3º Escalões da FEB, que foram estacionados em San Rossore, próximo a cidade de Pisa, fui procurar o meu antigo comandante de sub-unidade (C.P.P./2) e pedir para ser requisitado. O Comandante da E.P.P./2 não atendeu ao meu pedido como também me incluiu no meu antigo Pelotão de Morteiros, porém não encontrei meus antigos companheiros, mas, mesmo assim, fui recebido com cordialidade por todos e nos tornamos “uma família unida”.
Depois de um período de instrução no acampamento de San Rossore, seguimos para Silas, onde estava a Linha de Frente. Passamos por um lugarejo chamado TORRE DE GRANAGLIONE, onde fomos forçados a estacionar devido ao mau tempo (chuva muito forte), para passar a noite. O inverno estava começando, porém ainda não estava nevando. As noites, porém, eram muito frias e o solo e as plantas amanheciam com uma camada de neve.
Para passarmos a noite naquela região, o Comandante procurou abrigar todo o pessoal nas casas ali existentes, o que não foi muito difícil porque as famílias italianas já estavam acostumadas com aqueles contratempos. O meu Pelotão foi alojado na Capela ali existente, um lugar muito apertado para tanta gente; mesmo assim procuramos “nos ajeitar” da melhor maneira possível.
Depois de deixar “nossas coisas” no local que me coube, sai para um reconhecimento dos arredores. Parado na única pracinha do local, conversava com um colega, quando ouvi (eu já entendia mais ou menos o italiano) um habitante da localidade comentar que na casa dele havia lugar para umas 5 pessoas, mas que ninguém o procurou. Dirigi-me, então, àquele que havia comentado e pedi-lhe que não falasse sobre o assunto com mais ninguém, pois eu ia pedir ao meu comandante autorização para aceitar o seu acolhimento.
Procurei o meu Comandante e, depois de contar-lhe o fato, pedi-lhe permissão para aceitar o oferecimento do italiano, o que me foi concedido. Procurei, então o cabo da outra peça de morteiro, convidamos os dois sargentos do pelotão e também o sargento auxiliar, e nos trnsportamos para a casa do hospitaleiro italiano, que era um idoso.
Estávamos com as nossas roupas molhadas, inclusive as roupas que se encontravam nos sacos. A temperatura havia caído muito, razão porque, ao entrarmos na casa do italiano, procuramos nos chegar a lareira a fim de nos aquecermos.
Habitavam aquela casa um casal de velhos que eram chamados de “nonos”, por uma mulher cujo marido “tedeschi portare-via”, um “bambino” de 9 anos mais ou menos e uma “ragazza” de 11 ou 12 anos, doente e acamada.
Pelo aspecto da casa e pela educação de seus habitantes via-se que eram pessoas de classe média e que viviam com relativo conforto.
Para nos confraternizar com aquela delicada e hospitaleira família, procuramos estabelecer um “papo” o que não foi difícil, apesar de ainda não estarmos bem familiarizados com o idioma italiano, porque havia da parte dos italianos um desejo de conhecer algo sobre o Brasil, sendo estabelecido uma espécie de serão com o aparecimento de outras pessoas. Primeiro foi uma “ragazza” que morava nas proximidades; depois foram alguns rapazes e mais uma ou duas “ragazzas”. Falamos sobre vários assuntos e, de quando em vez, alguém nos perguntava como era São Paulo, etc…
O primeiro que sentiu vontade de se recolher, foi o Sargento Thadeu – era o Sargento Auxiliar do Pelotão.
- Vou deitar-me – disse. Estou cansado…
- Espera um momento – disse a velha senhora que já havia se solidarizado conosco. Vou esquentar a cama.
- Não é preciso – disse o Sargento Thadeu um tanto encabulado. Não precisa se incomodar. Muito obrigado.
Com as nossas caras de “lobo mau”, maliciamos o caso e isto encabulou ainda mais o Sargento que saiu da sala, dirigindo-se para o quarto que lhe havia sido destinado.
Não demorou muito, esfregando as mãos e encolhido, retornou o Sargento Thadeu:
- Êta frio danado! A cama está tão fria que até parece que jogaram água gelada no colchão.
- Eu sabia que o senhor não conseguiria dormir – disse a senhora que a seguir saiu da sala.
Com aquelas mesmas caras de “lobo mau”, perguntamos a nós mesmos: será que ela vai deitar na cama para aquecê-la?
O que aconteceu foi o seguinte. Saindo da sala a boa “nona” foi buscar uma vasilha de barro com alça, cheia de brasas. Colocou uma armação de bambu ou taquara sobre a cama, pendurou a vasilha de barro com alça que ficamos sabendo chamar-se “escaldine” e a seguir cobriu a armação com os cobertores.
Dormimos naquela noite como uns justos e, no dia seguinte, quando despertamos, encontramos as nossas roupas enxutas, inclusive as roupas dos sacos de campanha, as nossas galochas limpas e os nossos capotes escovados. Aquela boa “nona” e aquela senhora, ainda bonita que tinha uma filha doente, cujo marido “tedeschi potare via”, passaram parte da noite cuidando da roupa de cinco soldados desconhecidos, fazendo aquilo que somente uma mãe faria e o que poucas esposas seriam capazes de fazer. Ficamos comovidos. Não havia palavras capazes de expressar nossos agradecimentos.
Quando fomos pegar a nossa primeira refeição do dia, lembramos da menina doente e procuramos obter uma boa ração de mingau de aveia para ela e outras coisas para atender também as demais pessoas. Procuramos em nossos sacos aquilo que não nos fazia falta e lá deixamos chocolate, biscoitos. Cigarros e até um par de calçado e alguns agasalhos que não nos faziam falta, mas que, absolutamente, não quitava a nossa gratidão.
Não me foi possível voltar a Granaglioni e não tive mais notícias daquela gente boa que, numa noite de chuva, frio e lama, nos acolheu em sua casa e nos deu demonstração inesquecível de comovente solidariedade humana e de amor ao próximo. Fiz o possível para voltar àquela localidade e rever os “NONOS DE GRANAGLIONI”, não somente para abraçar-lhes como também para saber seus nomes. Não foi possível. Um soldado, principalmente durante a campanha, não manda em si.
Na guerra há dessas coisas…”
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“Um outro acontecimento, que merece ser contado, aconteceu em BOMBIANA, bem próximo de Castelo, durante a fase defensiva devido ao inverno rigoroso.

A nossa Seção de Morteiros ocupou posições em Bombiana e a guarnição ocupou uma casa de camponês italiano que ali existia. A casa tinha dois pavimentos. O térreo era habitado por um casal de italianos e tinha uma sala, um quarto e cozinha e o pavimento de cima era habitado por um casal de franceses com uma filha de 10 ou 11 anos. Tinha 3 quartos e uma área de circulação. A família que ocupava a parte térrea era de camponeses e devia ser os donos da propriedade. Eram designados por “babo” e “mama”. Não ficamos sabendo se tinham filhos. Quanto à família do andar de cima, parecia ser gente de fino trato. Não ficamos sabendo o porquê de estarem ali.
Com a nossa chegada à família passou a utilizar um único quarto, os outros dois foram ocupados por nós.
Nessa posição chegamos a passar fome. A comida chegava pela manhã, antes do sol raiar, e à tarde quando escurecia. A estrada que dava acesso à nossa posição era vista pelos observatórios inimigos situados em cristas dominantes, razão pela qual era intransitável durante o dia. Nessa posição só saíamos do abrigo quando tínhamos missão de tiro, pois deveríamos ter o cuidado para não denunciarmos a posição. Felizmente o francês não deixava faltar lenha para a lareira.
Um dia a “bóia” não chegou à noite e também não chegou na manhã do dia seguinte. Eram mais de 12 horas e a nossa fome era de matar… Deitados em nossas camas, procurávamos afugentar aquela fome que nos atormentava. Não tínhamos, realmente, nada para comer porque “catoletas” que nos haviam dado como rações de reserva eram demasiadamente enjoativas e, por isso, demos para os habitantes da casa. O jeito era esperar que anoitecesse e então…
Foi nesse momento que a francesinha entrou em nosso quarto com dois pratos de macarrão, um par mim e outro para meu companheiro de quarto. Creio que foi o mais gostoso prato de macarrão que comi em toda a minha vida.
Com a família italiana que morava no andar térreo, tivemos menor contato porque como disse, durante o dia raramente saímos de nossos abrigos, não só para não denunciar a posição como também devido ao frio que era muito intenso.
Certa vez desci ao pavimento térreo, o italiano chamou-me em particular e me ofereceu “uma binquera de vino” mas pediu-me que guardasse segredo porque ele tinha pouco vinho e não poderia oferecer a todos.
Saboreamos o gostoso vinho, e quando saí para substituir o meu companheiro no observatório e na escuta do telefone, o italiano, novamente, pediu-me que não falasse com ninguém sobre o convite, pois ele tinha poucas garrafas para passar o inverno.
O vinho, naquela região, é uma bebida muito apreciada e muito útil porque ativa a circulação do sangue, promovendo uma sensação de aquecimento.
Logo que cheguei para substituir o meu companheiro, comentei o fato e ele disse-me que já havia sido convidado e que ouviu do italiano a mesma “parola”.
Muitos outros acontecimentos poderia contar. Escolhi justamente estes porque me agrada falar sobre a cordialidade e o espírito de solidariedade daqueles camponeses italianos.
Nem a guerra, com toda a sua brutalidade, conseguiu destruir ou modificar o espírito cordial e até mesmo exagerado daquela gente boa e simples.

*FONTE: Do livro “Histórias de Pracinhas” Contadas por eles mesmos Autor: Vet Maj Álvaro Duboc Filho
   *Site: http://www.anvfeb.com.br

sábado, 1 de novembro de 2014

Curiosidades sobre as Oficinas e demais instalações do Pátio Ferroviário




 

 Dados sobre as oficinas
               

 

 
 



“O conjunto arquitetônico que constituía as Oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas em Ribeirão vermelho,cujas atividades operacionais iniciaram-se em março de 1896, também data de 1895, sendo supervisor da obra Antônio Rodrigues Oliveira Castro, que dirigiu com proficiência os trabalhos, tendo às suas ordens grande número de homens, a maioria espanhóis. As oficinas montadas pela Brasilian Contracts Corporation possuíam as formas utilizadas nas construções industriais da época, variando apenas seus interiores. Eram construções com pés direitos altos, sendo empregadas em suas coberturas, além de estruturas metálicas importadas de Glasgow, na Escócia, as telhas francesas importadas de Marseille na França. As oficinas de Ribeirão Vermelho eram divididas em vários setores, destacando-se: caldeiraria, fundição de ferro-bronze, ferraria, marcenaria, carpintaria, tinturaria, etc., chegando a empregar, em seu apogeu, algo em torno de 800 trabalhadores ferroviários. Em suas instalações eram feitas reformas, reparos e montagens de carros e locomotivas, sendo muitas peças de reposição fabricadas pelos próprios técnicos e operários, assim como as montagens de carcaças de madeiras em peroba e cedro para o esqueleto, estrado e revestimentos laterais dos carros que eram preparados sobre as estruturas de ferro vindas do exterior. No setor de fundição, eram forjadas rodas para locomotivas e outros veículos, recebendo equipamentos de acordo com as necessidades e a diversificação do transporte. Na década de 1910, as oficinas de Ribeirão Vermelho haviam sido melhoradas com a instalação de um grande torno de rodas, dois tornos menores, uma plaina horizontal, uma máquina de furar radial, de grande potência e um aparelho de soldagem oxy-acetileno. A oficina, que era movida a vapor nessa ocasião, foi substituída por um motor elétrico, em razão da construção da linha de transmissão de força de Lavras a Ribeirão Vermelho, numa extensão de 10 km. Para se ajuizar das possibilidades dos serviços nessa oficina, figura como exemplo a construção da Locomotiva 55 Tipo Consolidation para a bitola 0,76 m, construída nessa oficina por operários nacionais e que prestavam tão bons serviços quanto as importadas, tendo custado 82:457$000(oitenta e dois contos, quatrocentos e cinqüenta e sete mil réis), cerca da metade do que custaria uma do mesmo tipo, adquirida no estrangeiro, conforme Mucio Jansen Vaz, em Estrada de Ferro Oeste de Minas (ob.cit.). Em 1935, após o arrendamento da Oeste de Minas pelo governo do Estado de Minas, a rede Mineira de Viação pensou em centralizar as fundições da ferrovia e, com isso, o setor de fundição de Ribeirão Vermelho foi desativado, transferindo todo seu equipamento para as oficinas de Divinópolis. Na década de 50, com a transformação do sistema de transporte, algumas locomotivas a vapor passaram a sofrer adaptações para funcionar a óleo, sendo a primeira experiência em Ribeirão Vermelho realizada em 1951, em uma locomotiva Consolidation nº 430. Já em 1958, a tração a vapor começou a ceder lugar às elétricas e diesel, sendo, em 1975, extinta totalmente do país, com exceção das empregadas no turismo. Porém, com essas transformações, as oficinas de Ribeirão Vermelho passaram a ser designadas como depósitos e no ano de 1968, foi confirmada a sua desativação, passando seu acervo para o distrito de Engenheiro Bhering, no município de Lavras. As oficinas representam para os ribeirenses a instrução, a disciplina, o ofício, a dignidade e a honra do trabalhador ferroviário. A princípio, fruto da mão de obra proletária farta de uma nação em transformação, que empregava os operários ainda crianças, entre 9 e 12 anos de idade, lotados em uma escola prática de aprendizes para a formação de mão de obra especializada, em que se misturavam aulas de desenho, geometria e aritmética, entre outras matérias, correspondentes aos vários setores e departamentos operacionais.

Rotunda 

“As obras da construção da Rotunda de Ribeirão Vermelho, anexa às oficinas, foram concluídas em 1895 pela Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas, também sob a supervisão do português Antônio Rodrigues de Oliveira Castro, entrando em atividades somente em março de 1896. Destinada a depósito, manutenções, montagens e reparações de bitolas métricas, a Rotunda, assim como as oficinas, teve suas estruturas montadas pela Brasilian Contracts Corporation, além dos equipamentos, máquinas e projetos procedentes da Inglaterra. Em relatório apresentado pelo diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas, engenheiro José de Almeida Campos Júnior ao Sr. Ministro da Viação e Obras Públicas, a Rotunda de Ribeirão Vermelho é citada como tendo sofrido uma limpeza e aparece no quadro “Relações de Usinas e oficinas na bitola de 1,00 m” com os seguintes dados: Quilômetro - 293,985; Comprimento – diâmetro 75 m; largura- 6,45 m; sistema de Construção- alvenaria de pedra, tijolos, telhas francesas; Valor- 90.000$000(noventa contos de réis). A partir da década de 60 , quando entraram em operação as locomotivas a diesel, em substituição às máquinas a vapor, num processo gradativo, a Rotunda passou a ser utilizada exclusivamente para depósito de locomotivas a vapor, abrigando em seu interior várias dessas locomotivas até o ano 1981, quando, então, a RFFSA, com a criação do Centro de Preservação da História Ferroviária de Minas Gerais em São João del Rei, resolveu recuperá-las para constituir o seu acervo. Segundo Sérgio Santos Morais, em reconstrução da Rotunda de São João Del Rei (ob.cit.), “a rotunda é uma oficina radial, possuindo forma circular, tendo ao centro um dispositivo chamado girador de onde irradiam linhas como se fossem raios em círculos. Os espaços internos são divididos em boxes individuais, com linhas para onde são conduzidas as locomotivas, através do girador. As paredes externas não são na realidade em forma circular, mas de forma poligonal, formando um prisma de 30 faces ou lados, com grandes janelas distribuídas duas a duas em cada plano e nove portões que dão acesso ao edifício, possuindo pé direito em torno de 6m, diâmetro de 75 m e 30 colunas de ferro fundido ricamente trabalhadas, possuindo aberturas para passagem de tubulação de águas pluviais, apoiadas em cantaria de pedras. Um único portão é encimado por um frontão característico que cria um eixo de simetria na fachada. O telhado em duas águas, acompanha o formato poligonal do edifício, formando planos em forma de trapézio.” A Rotunda é o orgulho dos ribeirenses. De inquestionável valor histórico, a Rotunda lembra construções romanas, ostentando-se, em especial a magia do seu interior todo constituído de elementos inteiramente oriundos da cultura europeia. Ali dentro, sob o batente duro das ferramentas, dos insistentes apitos das locomotivas, da caldeira e do carvão, tramavam-se as melhores chances de um futuro melhor para Ribeirão Vermelho. Suas conquistas, malogradas ou não, tais como a organização político-administrativo, a criação de clubes litero-recreativos, a fundação das escolas, corporações musicais, clubes de futebol e igrejas, entre outros, foram iniciativas florescentes que nasceram no seio da família ferroviária ribeirense que, unida, construiu a cidade. Sua forma arquitetônica curiosa e pouco comum estimula e provoca a atenção de muitos visitantes que questionam a história local. Setores completando o conjunto ferroviário de Ribeirão Vermelho, existem os prédios destinados especificamente às instalações do restaurante, conserva externa, posto médico ferroviário, estação rádio-telegráfica, armazém de baldeação e casa do agente, todos construídos simultaneamente e após o período da construção da Estação, exceto a casa do agente. A literatura ferroviária nos informa que tais edifícios tiveram em suas construções o emprego de uma tecnologia muito avançada para os padrões brasileiros da época e utilização de um material quase todo importado, sendo esses madeiras para vedações, telhas francesas nas coberturas, ardósias e ferro em algumas estruturas. O Posto Médico Ferroviário, edifício destinado ao ambulatório para atendimento médico aos ferroviários e seus familiares, foi construído alguns anos após a instalação das oficinas e mantido no decorrer dos anos pelas administrações da ferrovia. Retrata as condições primitivas da assistência médica implantada no município, esboçando suas atenções, especialmente dos ferroviários e suas famílias, em tempos totalmente adversos aos recursos da medicina moderna compatível com as situações financeiras do operário, cuja responsabilidade profissional do médico, ultrapassava os limites da filantropia, principalmente no que diz respeito ao atendimento às gestantes e no combate à mortalidade infantil, além dos primeiros socorros em acidentes e tratamentos às enfermidades existentes. O Restaurante Edifício cuja construção serviu, especificamente, ao refeitório da Estrada de Ferro Oeste de Minas, sendo administrado em sistema de concessão. Alguns de seus proprietários foram Maria Rita de Jesus, José Pereira de Abreu, Xisto Loureiro Patto e Francisco Borges, o último concessionário em 1961, quando, então, o restaurante foi desativado. Posteriormente, ainda na primeira metade da década de 60, esse edifício sofreu adaptações para ser utilizado como escritório do setor de “Turma de Pontes”, também sediado em Ribeirão Vermelho, sendo também desativado em 1981, quando o setor de Turma de Pontes transferiu-se para as oficinas e, em seguida, para o edifício que serviu à Cooperativa do Serviço de Subsistência Reembolsável da Rede Mineira de Viação, na Rua Joaquim Braga. Estabelecimento complementar aos serviços de embarque e desembarque de passageiros da estação, o Restaurante atendia aos viajantes que pernoitavam ou que faziam baldeação de trens mistos ou noturnos, procedentes de Uberaba, Belo Horizonte, São João del Rei, Barra Mansa, Cruzeiro, etc., em conexão com outras ferrovias em diversos horário, que cruzavam as chaves de Ribeirão Vermelho. Tem sua importância histórica peculiar como ponto de paragem dos viajantes, associados à culinária local dos primeiros decênios do século XX, onde comiam os variados pratos que constituíam a mesa da tradicional família ferroviária, destacando-se a bacalhoada ao azeite de oliva, regada ao “Vinho do Porto”, trazida pelos portugueses e muito apreciada pelos viajantes, além dos que acompanhavam a carne assada de animais silvestres, entre os quais figuram a paca e a capivara, na ocasião, bastante comuns nesta zona, os pescados, tais como o dourado e a traíra, além da goiabada, do melado com queijo, do canudo de doce de leite, primitivamente moldados com “bambu do reino” e a tradicional geléia de mocotó produzida nos arredores rurais do município. Conserva Externa Conserva era o termo empregado ao setor da turma de operários que trabalhavam na conservação e manutenção das locomotivas, carros e vagões da ferrovia. Era dividido em duas turmas; conserva interna, que trabalhava na recuperação das locomotivas internamente nas oficinas e rotundas e a conserva externa, que trabalhava na vistoria e revisão superficial das locomotivas, carros e vagões em operação de viagens, sendo seu edifício destinado ao depósito operacional desse setor. Sua edificação tem grande valor por constituir a organização e estrutura do sistema ferroviário ligado ao setor de segurança complementar às atividades operacionais da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Estação Rádio-Telegráfica Foi instalada pela Diretoria da Estrada de Ferro Oeste de Minas em 06 de novembro de 1922, com o objetivo de tornar mais fáceis as comunicações da administração, sediada no Rio de Janeiro, com as diferentes zonas da estrada. Posteriormente foi desativada, passando o pequeno edifício a ser utilizado como dormitório. Instalada de acordo com as necessidades de comunicação da época, o pequeno edifício da Estação Rádio-Telegráfica exprime com alarde a sua utilização quando, então, foram empregados pela Estrada de Ferro Oeste de Minas os sistemas tecnológicos aplicados na telegrafia sem fios através das ondas hertzianas ligando Ribeirão Vermelho a Belo Horizonte, São João Del Rei e Barra Mansa. O Armazém da Baldeação, grande edifício destinado ao depósito e armazenamento de produtos e mercadorias procedentes de várias regiões e estados, exportados e importados através da ferrovia que, na Estação de Ribeirão Vermelho, eram baldeados dos trens de cargas de bitola métrica para 0,76 m e vice versa. Sua construção reproduz a atividade mercantil e o mercado atacadista em conformidade com o abastecimento da região, desde utensílios domésticos, especiarias, alimentos, tecidos, gêneros secos e molhados, até materiais de construção civil, tais como cimento, cal, tijolos, telhas, etc., desenvolvidos por capitalistas e, principalmente, por parte da colônia sírio-libanesa, que com a margem para bons negócios, instalaram-se no município desde os primeiros decênios do século XX. A Casa do Agente, residência ferroviária destinada a servir de moradia ao Chefe da Estação e seus familiares. Essa residência foi construída no ano de 1926 e é conhecida como Casa do Agente, cujo nível na classe ferroviária estava abaixo do Chefe de Estação. A Casa do Agente, situada em local semiaberto, com alpendre, horta e chaminé, esboça a naturalidade de uma família ferroviária típica, a sua franqueza e hospitalidade, que, no desempenho infatigável do trabalho ferroviário, deu provas de patriotismo esclarecido e sincero no decorrer dos anos, cujo merecimento profissional adquiriu elevado conceito moral. Locomotiva nº 315 A Locomotiva a vapor tipo Pacific nº 315, marca Baldwin Works, ano 1920, foi concedida ao município de Ribeirão Vermelho graças à atenção do Dr. Sérgio Santos Moraes, arquiteto, coordenador do Programa de Preservação do Patrimônio Histórico da RFFSA através do termo aditivo nº 02 ao convênio 036/96, celebrado em 21 de junho de 1996, entre a RFFSA/PROFAC e a Prefeitura Municipal, através do Prefeito Dr. Nilton Lasmar, com o objetivo de recuperar, manter e preservar para fins culturais e ser colocada em local público. Desativada com o advento das locomotivas diesel-elétrica no final da década de 50, a Locomotiva nº 315 encontravase encostada no distrito da RFFSA de Engenheiro Bhering (Estação de Prudente), sendo restaurada nas oficinas de Lavras por uma equipe de profissionais ferroviários qualificados, previamente contratada pelo Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Ribeirão Vermelho. Aos 31 de agosto de 1996, o município de Ribeirão Vermelho recebia a Locomotiva nº 315, que deixava as oficinas de Lavras e retornava em definitivo para esse importante conjunto ferroviário, constituindo atualmente uma das principais peças da memória ferroviária de Ribeirão Vermelho. A estrada de ferro que atravessa vales e planícies e que interviu diretamente na vida diária de todos os ribeirenses, tem feito com que sejam poucos aqueles que permaneçam indiferentes ante a visão de um magnífico instrumento constituído por uma estrada de ferro. E, como um bem que marcou a instalação do transporte ferroviário, a Locomotiva nº 315 documenta com exatidão a evolução da tecnologia dos transportes no Brasil, além de conter a riqueza que ostenta em seus adornos, de notável importância histórico-cultural para Ribeirão Vermelho.

Quadro de Edificações Ferroviárias de Ribeirão Vermelho

Imóvel Existentes  / Desat. Em func ./ Demolidos

1. Estação da navegação do Rio Grande - - x
2. Galpão de mercadorias em trânsito da nav.(baldeação) - - x
3. Galpão de oficinas da navegação do Rio Grande - - x
4. Residência do escalador de maquinistas - - x
5. Escritório Central das oficinas - - x
6. Galpão de máquinas operatrizes - - x
7. Galpão de carpintaria e marcenaria - - x
8. Galpão de almoxarifado anexo ao escritório da turma de pontes - - x
9. Galpão da Fundição - - x
10. Galpão da ferraria  x - -
11. Galpão de Manutenção de vagões (conserva interna) - - x
12. Engenho Central da Cia. Oeste de Minas - - x
13. Rotunda x - -
14. Posto Médico x - -15. Restaurante x -
16. Conserva Externa x - -
17. Estação Rádio-Telegráfica x - -
18. Galpão de Mercadorias em trânsito (arm. baldeação) x - -
19. Balanças de carros,vagões e locomotivas - - x
20. Galpão do Setor de Iluminação - - x
21. Estação Ferroviária x - -
22. Residência do chefe de estação(casa do agente) x - -
23. Residência do chefe de depósito* - x -
24. Cooperativa  do serv. de subsist. reembolsável  x - -
* Residência de proprietário particular

Fonte: http://lauaxiliar.blogspot.com.br

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O "Vapor"

Devido ao grande período de estiagem e a triste condição que se encontra o nosso Rio Grande, recentemente foram encontrados sob a areia da praia que se formou entre a ponte e o antigo porto, restos das embarcações que outrora faziam parte da navegação no Rio Grante entre a  barra do Ribeirão Vermelho, a uma légua da cidade de Lavras, até a cachoeira da Bocaina, na Pimenta, perto da cidade de Piumhy. A prefeitura iniciou trabalhos de escavações no entorno das embarcações naufragadas, porém não informou se irá concluir a retirada das embarcações e restaurá-las.

Trago abaixo trecho de texto sobre o início da navegação retirado de uma comunidade no site Facebook (https://pt-br.facebook.com/permalink.php?story_fbid=429912467086548&id=123396714404793&stream_ref=5) e também fotografias feitas recentemente do que sobraram das embarcações. Os créditos da fotos são de Edson C. Patto.






http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=707619&pagfis=3462&pesq=&esrc=s


"A Navegação do Rio Grande
 OS PRIMÓRDIOS
No século XIX, um obstáculo ao desenvolvimento de Minas Gerais, e de sua transição da economia do escravismo para o capitalismo, era a deficiência de vias e meios de transporte. A província interiorana, com vasto território, por muito tempo foi propositadamente mantida isolada, para um melhor controle sobre as riquezas extraídas da região pelos portugueses. Para mudar essa condição, planos viários foram elaborados e fundadas empresas ferroviárias e de navegação. Não foi diferente na região Sul de Minas, conformada pelos municípios a noroeste da Serra da Mantiqueira e sudeste do Rio Grande, ocorrendo uma modernização geral dos transportes.
Em 13/04/1.849, houve uma solicitação à Câmara Municipal de Lavras para abertura da navegação do Rio Grande. As terras banhadas pelo rio, a oeste de São João d’El-Rey, eram um dos principais vetores agrícolas da província. O núcleo urbano de Formiga despontava como ponto articulador de negócios da lavoura e pecuária, com intensas vinculações comerciais com São João d’El-Rey. Havia nesta zona produção de cereais, fumo, cana de açúcar, algodão e gado, com crescentes exportações para o Rio de Janeiro. O rio possuía transito expressivo de canoas, ajojos e barcas impulsionados por varas e remos, que transportavam de 200 a 600 arrobas.
Em 1.850 o cidadão José Jorge da Silva Penna, então Agente Executivo de Lavras, efetuou os primeiros estudos para o estabelecimento da navegação do Rio Grande, começando na barra do Ribeirão Vermelho, à margem esquerda do rio e a aproximadamente 8km de Lavras, e seguindo rio abaixo.
Em 20/06/1.856, a Lei nº 793, em seu artigo 4º, autorizou o então presidente da Província Herculano Ferreira Penna a contratar uma empresa para explorar a navegação entre as vilas de Lavras do Funil e Piumhy, nas proximidades da confluência dos rios Verde e Sapucahy.
Em 1.862, o coronel Joaquim Camillo Teixeira da Motta forneceu em seu relatório informações de que, segundo os exames feitos pelo engenheiro Jules Borell du Vernay , o Rio Grande era navegável, mesmo na ocasião da mais rigorosa seca, numa extensão de 40 léguas, desde a embocadura do Ribeirão Vermelho até a Cachoeira da Bocaina , sendo necessário apenas remover as madeiras que, caindo das margens, costumavam obstruí-lo. Daí em diante, em razão das numerosas correntezas existentes, a navegação era impraticável. Praticava-se então, um comércio rotineiro no mesmo sistema empregado no Rio das Velhas. Da Cachoeira da Bocaina em diante a navegação era impraticável pelas numerosas correntezas existentes, que muito dificilmente se poderia remover.
Sobre a navegação do Rio Grande, o engenheiro J. D. de Araujo e Souza, quando diretor de obras públicas de Minas, solicitou informações ao sr. Dr. Francisco de Paula Ferreira e Costa, que forneceu os seguintes dados:
“Em solução á sua carta de hoje cabe-me informar que o Rio Grande, magestoso rio de futuro immenso para nossa patria, é perfeitamente navegavel a começar da barra do Ribeirão Vermelho, a uma légua da cidade de Lavras, até a cachoeira da Bocaina, na Pimenta, perto da cidade de Piumhy, encontrando sempre um canal em termo médio de 4 ½ a 5 palmos de profundidade, sendo a menor profundidade 4 ½ palmos na ilha da Correnteza e nas Itapoeiras, em outros lugares é ella de 6, 7, 8, 11 e mais palmos.”
Demonstrada a navegabilidade do Rio Grande, Araujo e Souza entendia que, por meio de canais de derivação ou comportas, o rio poderia transformar-se numa via ininterrupta de Lavras a Sant’Anna do Parnahyba, na foz do Rio Grande, em um percurso de mais de 800km, fazendo parte da via de comunicação da Côrte ao Mato Grosso.
Porém, a exploração das dezenas de léguas só veio acontecer quando o cônego Joaquim José de Sant’Anna, comendador da Ordem de Cristo e vice-presidente da Província de Minas Gerais, sancionou a Lei nº 2.754 de 18/12/1.880, concedendo ao Dr. José Jorge, ou a empresa por ele organizada, a subvenção de 5:000$000 anuais, pelo prazo de 5 anos, para a navegação a vapor do Rio Grande, entre a barra do Ribeirão Vermelho e as imediações da Cachoeira da Bocaina. Requereu este cidadão a celebração do respectivo contrato, que foi lavrado a 15/04/1.882 , e nele ficaram assentadas, entre outras cláusulas:
• Que as viagens redondas seriam pelo menos uma a cada mês;
• Que a subvenção seria paga por semestres vencidos, com exceção da primeira, que o concessionário receberia logo depois de começada a navegação;
• Que a empresa pagaria multa de 100 a 500.000 réis pela inobservância do contrato;
• Que o concessionário, depois de ter prestado a necessária fiança no valor de 5:500$000, já havia recebido a 1ª prestação na importância de 2:500$000.
Dentre as embarcações, a primeira foi o vapor “Dr. Jorge”, homenagem prestada àquele cidadão pelos seus serviços e constante dedicação em prol da navegação do Rio Grande, iniciada em 18/12/1.880, mas que só se tornou regular em Janeiro/1.881, fazendo uma viagem semanal entre a barra do Ribeirão Vermelho e as proximidades da Cachoeira da Bocaina, descendo 208km do rio até o porto de Capetinga em 1½ dia e subindo em 3½ dias. A embarcação fora construída no Mississipi, Estados Unidos para serviços de reboque, e possuía 2 lanchões de madeira e um saveiro de ferro para o confortável transporte de passageiros. Veio para o Brasil e foi montado na margem esquerda do rio, por técnicos da indústria naval americana. Ocupava 10 homens de serviço e transportava gêneros alimentícios como sal, queijos, café, e couro, fumo e lenha.
Um jornal de Alfenas de Dezembro/1.880, cuja nota foi recolhida pelo lavrense Ary Florenzano, noticiou o seguinte:
“Teve lugar, sábado, dia 18, a inauguração da navegação a vapor no majestoso Rio Grande, légua e meia de Lavras. À uma hora da tarde, o vapor Dr. Jorge, vindo com a bandeira nacional e tendo na proa duas outras, em que se liam os nomes do saudoso Dr. José Jorge e do Com. José Esteves, recebia a bordo alguns convidados de ambos os sexos. Depois da solenidade da bênção, desferiu a carreira, saudado pelas bandas de música de Lavras e Perdões, postadas nas duas margens, e pelas aclamações frenéticas da multidão. Ao desembarcarem os primeiros personagens, pronunciaram discurso saudando a nova era que surgia para estas regiões abençoadas. Fez ainda, o vapor, alguns passeios pelo rio, conduzindo grande numero de pessoas, e constantemente erguiam-se calorosos vivas aos dignos empresários. Apresentava à noite, um belo aspecto a improvisada estação, ornada de bandeiras e luzes de cores, queimando-se na margem oposta um vistoso fogo de artifício. Foi uma realidade a navegação a vapor do Rio Grande a esta parte de Minas, com merecido estusiasmo o primeiro vapor que sulcou galhardamente as águas do majestoso rio, justamente denominado Mississipe Brasileiro.”
Já a edição de 20/12/1.880 do Monitor Sul Mineiro noticiava:
“Tomando a mim o espinhoso cargo de noticiar aos leitores deste jornal o que por aqui for ocorrendo, dou parabéns à minha fortuna por ter de relatar, em linguagem tosca, o fato de ter inaugurado ante-ontem a navegação do majestoso Rio Grande. Dias antes do lançamento do vapor Dr. Jorge, no Rio Grande, era o tema de todas as palestras o resultado favorável desta navegação, pois não era uma utopia para as cabeças bem formadas e corações repletos de patriotismo. Tendo o vapor recebido a bênção do Reverendo Vigário José Bento Ferreira de Mesquita, a música de Lavras, ao som de vistoso fogo de artifício, executou várias peças. Do lado oposto do rio, vindo de Perdões, estava a música daquela freguesia acompanhada de várias pessoas que vieram testemunhar o apreço que os ligava àquela idéia. Concluída a cerimônia religiosa de bênção, pôs-se o barco a vapor em movimento; descendo e subindo o rio e levando muitas pessoas que entusiasmavam-se com aquele pássaro gigante para o progresso. O barco a vapor trazia na proa um pavilhão nacional e duas bandeiras em que liam-se os nomes do Dr. José Jorge da Silva e Comendador José Esteves de Andrade Botelho, aos quais se deve a idéia desta navegação. Ao som das bandas de músicas, o barco a vapor fez várias evoluções no rio e à noite queimaram-se inúmeros foguetes, etc. Aos senhores Francisco Alves de Azevedo, Evaristo Alves de Azevedo , José Jorge da Silva Penna, deve-se a feliz lembrança de serem as águas do Rio Grande sulcadas por um barco a vapor, desde a embocadura do ribeirão Vermelho até o povoado de Pimentas, no município de Piumhy. Honra a estes cavalheiros. Está, pois, inaugurada a navegação do Rio Grande.”
No relatório apresentado pelo senador João Florentino Meira de Vasconcellos em 12/12/1.881, ao passar a administração da Província ao 2º Vice Presidente Cônego Joaquim José de Sant’Anna, foi citado um pedido ao governo imperial de privilégio para a navegação de parte do Rio Grande, feito pelo cidadão norte-americano Henrique Mills, sem especificar, no entanto, que parte seria esta.
Por escritura pública de 15/04/1.884, aprovada e ratificada pelo governo em 25/06/1.884, todos os direitos, vantagens e ônus do contrato anteriormente celebrado foram cedidos a Francisco Alves de Azevedo e a Evaristo Alves de Azevedo, que, a seu turno, por escrituras de 28/11/1.884, fizeram transferência dos seus direitos a José Antonio de Almeida, comerciante proveniente de São João d’El Rey, onde era um dos empresários da navegação do Rio das Mortes sob a firma Pedroso, Almeida & C. Este logo organizou uma grande firma, a José de Almeida & Landares , montando um vapor pequeno que rebocava uma chata, transportando mercadorias até Capetinga, servindo às localidades de Formiga, Campo Belo e outras. A empresa a cargo de José Antonio de Almeida contava também com a subvenção anual de 5:000$000 e utilizava o vapor “José Jorge”. No entanto, tendo o empresário requerido o pagamento do semestre de 15/04/1.885 a 14/10/1.885, ouvidas as diretorias de Obras Públicas e da Fazenda, aquela opinou contra o pagamento, por não constar dos documentos apresentados que a navegação tivesse sido feita por outro vapor além do “José Jorge”, e não terem sido cumpridas outras cláusulas do contrato. A Câmara Municipal de Itapecerica pediu que fosse cassado o privilégio, fato informado à Diretoria da Fazenda por despacho de 04/12/1.885.
Em 09/07/1.886 foi autorizado, por despacho, o pagamento da subvenção de 5:000$000 vencida dos semestres de 15/04/1.885 a 14/10/1.885 e de 15/10/1.885 a 14/04/1.886.
Em 1.887, deixando de apresentar o relatório dos trabalhos do ano anterior, pediu o empresário prorrogação de 90 dias para cumprir este dever, estabelecido no § 6º da cláusula 5ª do contrato. Não só foi indeferido o pedido pela presidência da província, como imposta multa de 100$000 pela falta cometida. Em 27/04/1.887, sobre proposta da Diretoria Geral, ordenou a presidência o pagamento da subvenção correspondente ao semestre decorrido de 15/04/1.886 a 14/10/1.886. Ao final do ano de 1.887, o empresário solicitou também o pagamento da subvenção correspondente ao semestre de 15/04/1.887 a 14/10/1.887.

Notas:

1) Agente Executivo era o presidente da Câmara Municipal, que exercia a função hoje equivalente a prefeito.

2) Joaquim Camillo Teixeira da Motta (* 15/07/1815 Bom Jesus do Amparo, MG) foi o 3º vice-presidente da província de Minas, tendo assumido a presidência de 17/05/1862 a 09/12/1.862.

3) Na década de 1.850, Jules Borell du Vernay era engenheiro (civil) da Província de Minas Geraes.

4) Cachoeira da Bocaina ficava em Capetinga, atualmente Santo Hilário, distrito de Pium-í.

5) O privilégio exclusivo da navegação do Rio das Mortes foi concedido a Celestino Gaspar de Oliveira, ou quem melhores condições oferecesse, por 20 anos, em virtude da Lei nº 2.572 de 1.879. Caducaria a concessão se, dentro de 2 anos, não fosse iniciada a navegação, que deveria ter suas tarifas de fretes e passageiros sujeitas à aprovação do governo, que estipularia os favores e ônus de costume em tais casos. O referido cidadão requereu a efetividade daquela lei em seu favor, apresentando as bases do contrato a ser celebrado, e pediu mais os favores da Lei nº 2.334 de 1.876, isentando de impostos provinciais as máquinas e materiais para quaisquer empresas ou companhias industriais. Examinadas as bases, e julgadas aceitáveis, lavrou-se o contrato a 04/03/1.879. Em 19/12/1.880 chegou no Porto Real, subúrbios de S. João d’El-Rei, a lancha a vapor “Virgilio de Mello Franco”, vinda da Invernada, conduzindo à reboque 2 barcas galhardamente embandeiradas, o sibilar do vapor em harmonia com os festivos sons de uma banda de música colocada à margem do rio, onde se aglomerava também numerosa multidão, bem como na ponte. Eram então empresários da navegação José Antonio de Almeida e o citado Celestino de Oliveira.

6) Algumas fontes referem-se à firma Almeida & Landares, ou Almeida & Laudares, e ainda Almeida & Loudares, dos empresários José Antonio de Almeida e Francisco Pereira da Motta Landares. Esta firma obteve também a concessão da navegação de São Francisco a Ribeirão dos Patos, no rio São Francisco, por transferência por escritura pública de todos os ônus e direitos dos cidadãos Paiva & Costa, que tinham contrato celebrado em 21/10/1.884 com a Província, em virtude da Lei nº 3.174 de 22/10/1.883. Tendo porém estes cidadãos pedido a aprovação dessa transferência, verificou-se, ouvidas as diretorias de obras pública e de fazenda, que os empresários não cumpriram as condições estipuladas no contrato, resolvendo a presidência da Província impor-lhes multa e bem assim rescindir o mencionado contrato.
A empresa da navegação do rio São Francisco, dos contratantes Paiva & Costa, contava com subvenção anual de 3:000$000. Deveria ter recebido por cessão o vapor “Saldanha Marinho”, em face do disposto no art. 2º da lei 3.174, mediante a condição de transportá-lo do lugar em que achava-se ancorado até acima da cachoeira Pirapora, para utilizá-lo depois de convenientes reparos. A empresa, porém, recusou-se a aceitá-lo, em razão de seu estado de completa ruína. Um contrato foi assinado com o tenente-coronel Caetano Mascarenhas em 20/08/1.885, que havia proposto utilizar o vapor sem ônus para a Província, e obrigava-se a estabelecer a navegação no rio das Velhas entre Sabará e o porto de Jequitibá. Na mesma data, foi nomeada pela presidência da Província uma comissão para examinar e proceder a entrega do vapor."



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Tradições - Folia de Reis, Ribeirão Vermelho/MG


folia de reis é uma festa católica que celebra os Três Reis Magos. Fixado o nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro, adotou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o dia 6 de janeiro, que, em alguns países de origem latina, especialmente aqueles cuja cultura tem origem espanhola, passou a ser a mais importante data comemorativa católica, mais importante, inclusive, que o próprio Natal. A nossa cidade até hoje conserva essa bela tradição. Abaixo, vídeo de uma das folias de reis da nossa cidade se apresentando no município de São Tiago durante o XV Encontro de Folias de Reis de Mercês de Água Limpa.



terça-feira, 19 de agosto de 2014

Para poucas pessoas ou talvez nenhuma recordarem, e aos amantes da ferrovia

Muito interessante essas fotos antigas. Vale a pena observá-las.
Elas retratam grandes momentos de Ribeirão Vermelho.






















Algumas fotos retiradas da internet blog minas's trains




segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Nossa cidade segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Algumas informações do site do IBGE. Muitos dos dados abaixo são interessantes e seria legal conhecermos algumas dessas curiosidades.







Histórico

O povoado nasceu em 1886, na margem oposta à foz do ribeirão Vermelho com o rio Grande, em terras de Ana Custódia do Nascimento. Ali aportou o negociante Antônio Lúcio, que ajudou a inaugurar o povoado com a denominação de Porto Alegre. Em 1888, com a construção da estação de ferro Ribeirão Vermelho, o povoado passa a ser conhecido pelo nome atual. Em 1901, cria-se o distrito, elevado à categoria de município em 1948, desmembrando-se de Lavras.

É um dos menores municípios do Estado, com apenas 40 km²  de território. A sede tem boa estrutura urbana, a região é montanhosa e o Rio Grande é sua principal bacia hidrográfica. O crescimento, tanto populacional quanto econômico, está ligado à implantação da ferrovia na região, pois a Estrada de Ferro Oeste de Minas ali construiu pontes, facilitou e incrementou o comércio e propiciou oportunidades de emprego. A areia é seu principal produto mineral, e a agricultura tem por base o café e o milho.

Gentílico:  ribeirense

Síntese das Informações atuais de Ribeirão Vermelho segundo o IBGE.

> Área da unidade territorial: 49,251 Km²

> Estabelecimentos de Saúde SUS: 03 estabelecimentos

> Pessoal ocupado total: 911 pessoas

> PIB per capita a preços correntes - 2011: R$ 11.499,47

> População residente: 3826 pessoas

> População residente homens: 1842 pessoas

> População residente mulheres: 1984 pessoas

> População residente alfabetizada: 3396 pessoas

> População residente, religião católica apostólica romana: 3167 pessoas

> População residente, religião espírita: 70 pessoas

> População residente, religião evangélicas: 491 pessoas

> Valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes com rendimento domiciliar, por situação do domicílio - Rural: R$ 1.784,56

> Valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes com rendimento domiciliar, por situação do domicílio - Urbana: R$ 1.963,24

> Valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios particulares permanentes - Rural : R$ 408,00

> Valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios particulares permanentes - Urbana : R$ 510,00

> Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 2010 (IDHM 2010): 0,737

Dados conforme informações do site do IBGE.

domingo, 10 de agosto de 2014

Fotos da Navegação

Encontrei duas fotos interessantes. A primeira retrata, provavelmente na década de 10 (talvez 1906), uma das grandes enchentes do Rio Grande, onde se pode ver o Vapor ancorado em frente à antiga estação da navegação, local onde ficou também a primeira estação ferroviária chamada Lavras. A segunda  mostra a Estação fluvial conhecida como Fábrica em 1.911.




quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Os Cortez em Ribeirão Vermelho

RIBEIRÃO VERMELHO,  A TERRA DOS "CORTEZ".

Dizem os antigos que, quatro irmão da família Cortez vieram da Ilha da Madeira, Portugal, escodidos em um navio até o Brasil.
Vieram para a cidade de Ribeirão Vermelho para trabalhar na ferrovia (EFOM), que estava em plena expansão.
Depois de uma grande enchente do Rio Grande, eles tiveram a casa, pertences e dizem, mil réis que ficavam guardados em um colchão totalmente levados pela água.
Muito tristes com o ocorrido, Cândido Cortez e Marcelo Cortez foram para Divinópolis.
Os dois irmãos que ficaram em Ribeirão prosperaram, e sua linhagem até hoje prospera na Cidade que, foi conhecida à época por cidade dos Cortez.







Nasce Ribeirão Vermelho

A partir de 1º de janeiro de 1949 Ribeirão Vermelho se tornou efetivamente um município independente e nesta mesma data foi criada a prefeitura municipal.

Como as primeiras eleições ocorreram somente em 06 de março deste mesmo ano, a cidade nesses meses era governada por um intendente. Na época esta pessoa era o Dr. Joaquim José dos Santos Júnior.
Em 26 de março do mesmo ano tomou posse o primeiro prefeito eleito pelo povo de Ribeirão sendo este o senhor Gelson Loureiro tendo como vice o sr. João Teixeira da Silva que governaram entre 1949 e 1953. Após vieram outros conforme segue:

1953 à 1954 - Miguel Rodrigues Patto / Francisco Monteiro dos Santos.

1955 à 1958 - Gelson Loureiro / Custódio Pereira Patto.

1959 à 1962 - Nilton Lasmar / Fortunato Theodoro.

1963 à 1966 - Silvino Theodoro / Nabih Murad.

1967 à 1970 - Jóse Lopes de Abreu / Gerson Florêncio de Assis.

1971 à 1972 - João Teixeira da Silva / Romeu Dias Ramalho Jr.

1973 à 1976 - Mauro Rocha / Paulino Theodoro.

1977 à 1982 - Silas Fonseca / Walter Marques

1983 à 1988 - Nilton Lasmar / João José da Gama

1989 à 1992 - João José da Gama / Célio Carlos de Carvalho

1993 à 1996 - Nilton Lasmar / Tadeu Fernando Pereira Cantão

1997 à 2000 - Célio Carlos de Carvalho / José Venâncio.

2001 à 2004 - Célio Carlos de Carvalho /

2005 à 2008 - Ana Rosa Lasmar /

2009 à 2012 - Ana Rosa Lasmar / Tadeu Fernando Pereira Cantão

2013 à 2016 - Célio Carlos de Carvalho / Delma


(Fonte: Sobre Trilhos - Márcio Salviano 1998, Site TRE).






terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ultima viagem do nosso trem mineiro (Ribeirão / Barra Mansa).


No dia 26 de agosto de 1996 aconteceu a última viagem do "Mineirinho", trem de passageiros entre Ribeirão Vermelho (MG) e Barra Mansa (RJ), percorrendo trecho da antiga E.F. Oeste de Minas, hoje operado pela FCA.
Postarei aqui um vídeo retratando a primeira parte da viagem de Ribeirão à Carrancas.

(Vídeo postado por Eduardo de Paula no You Tube)